APÊ CANÁRIO

FICHA TÉCNICA

Projeto: Interiores

Uso: Residencial

Ano: 2024

Autoria: Gabriel Máximo

Coautores: Daniela Gomes, Gustavo Herrera

Localização: Santa Cecília – São Paulo – SP

Área de Interferência: 21m²

Área Total: 45m²

Materiais Predominantes: Cerâmica, Madeira.

MANIFESTO CINEMATOGRÁFICO

  Inicialmente concebido como um projeto cenográfico para um curta-metragem de animação fictício, o Apartamento Canário surgiu da necessidade da cliente de referenciar a cultura e o cotidiano brasileiro paulistano por meio da arquitetura presente em sua produção.

  Solicitando um cenário vibrante, que fizesse alusão a elementos icônicos das residências nacionais ao longo das décadas, mas que ao mesmo tempo expressasse uma identidade jovial e contemporânea, o espaço imaginado tinha como objetivo despertar nostalgia e pertencimento no espectador comum, além de apresentar essa tradição de forma envolvente aos olhos estrangeiros.

  O resultado trouxe tamanha satisfação à cliente que, como consequência, encomendou o projeto de interiores de um de seus apartamentos inspirado no cenário. Realizaram-se, então, as devidas adaptações à realidade, culminando na obra aqui apresentada.

"A princípio tratava-se de um projeto cenográfico, um cenário para um desenho animado que seria apresentado em um festival europeu. Mas o resultado acabou propiciando depois um projeto físico aqui em São Paulo mesmo.”

"Por se tratar de uma intervenção parcial em um espaço já habitado, a posição das portas foi mantida. A solução adotada foi otimizar a circulação transferindo armários para a estante, promovendo uma integração fluida entre entrada, cozinha e estar.”

ESPAÇO OTIMIZADO

  Apresentando intervenções apenas na cozinha e na sala de estar, o espaço teve sua circulação otimizada, considerando as dimensões limitadas da pré-existência. Para isso, implantou-se uma estante com gabinetes para armazenar prataria e bebidas, um espelho de corpo ao lado da porta de entrada, e estruturas de madeira para compartimentar objetos do dia a dia, como chaves, calendários, sapatos e mochilas.

  Essa lógica foi mantida na sala de estar, onde a estante foi desdobrada em um rack que se inicia na mesma parede e se estende até abaixo do janelão oposto à entrada do apartamento. Essa disposição permitiu não apenas um amplo espaço para guardar e expor objetos de valor afetivo, mas também criou um eixo funcional de circulação. Além disso, aumentou o número de assentos e, consequentemente, a capacidade de receber pessoas, já que a marcenaria sob a janela também serve como sofá — um fator importante para a cliente, que gosta de dar festas e receber amigos.

  Na cozinha, a principal adição — além da marcenaria planejada — foi a ilha de preparo voltada para a sala. Nela, foi possível integrar uma bancada de refeições com luminárias pendentes, permitindo o uso por mais de uma pessoa. Essa solução foi pensada diante da dificuldade de inserir uma mesa convencional no ambiente, conforme solicitado pela cliente.

IDENTIDADE BRASILEIRA

  Mantendo os conceitos inicialmente definidos, múltiplos materiais de uso comum no Brasil, como cerâmica e madeira, foram aplicados ao projeto. Destacam-se: o uso de cobogós na estante de entrada (complementando uma abertura de ventilação já existente), os ladrilhos hidráulicos na pia, o piso alaranjado em tom semelhante ao do tijolo baiano, a marcenaria planejada da sala de estar e da cozinha, e o vidro canelado aplicado tanto nesta última quanto na porta de acesso à área de serviço.

  Complementando a materialidade adotada, as cores escolhidas prestam uma clara homenagem à bandeira nacional — embora de forma não literal — através da combinação de tons pastéis com cores mais saturadas.

  O resultado é um ambiente retrô que carrega afeto e influência das antigas casas, chácaras e apartamentos das décadas de 60, 70 e 80, mas realizado com técnicas, logística e disposições contemporâneas, adequadas ao cotidiano de uma jovem artista dos dias de hoje.

“Desde o princípio a ideia era manifestar algo intrinsecamente nosso. Aquela essência boêmica brasileira e a coragem dos tons vibrantes que se via antigamente, inseridos no dia de hoje.”