DOCE TROPICO

FICHA TÉCNICA

Projeto: Reforma + Interiores

Uso: Comercial

Ano: 2025

Autoria: Gabriel Máximo

Coautores: Daniela Gomes, Gustavo Herrera

Localização: Santos – SP

Área de Interferência: 103m² (61m² construídos)

Área Total: 103m²

Materiais Predominantes: Cerâmica, Concreto, Metal, Vidro.

VIBRÂNCIA ADOCICADA

  Localizada em Santos, litoral paulista, a Doce Tropico é uma sorveteria que recusa a estética previsível de tons pastéis tão comum ao segmento. Em vez disso, ela abraça tons intensos que traduzem o frescor e a energia de seus produtos, reforçando, ao mesmo tempo, a herança latina de seus proprietários — sempre fiéis à expressividade cromática como linguagem cultural.

  Sua identidade visual também conecta diretamente o espaço aos ingredientes naturais que protagonizam o cardápio: do lado externo, amarelo e marrom evocam banana, melão e limão-siciliano; no interior, laranja e roxo fechado remetem ao universo cítrico e ao açaí. Cada tonalidade é, antes de tudo, um tributo ao Brasil tropical e às frutas que adoçam seu cotidiano.

  Em conjunto com texturas táteis e estampas marcantes, as cores constroem uma atmosfera impossível de ser ignorada — uma presença que afirma lugar no espaço urbano. Na Doce Tropico, a arquitetura não apenas ambienta: ela comunica o que se vende, de onde se vem e o que se acredita, tornando cada trecho do projeto parte essencial da estratégia do negócio.

"Neste projeto cor e estampa tem caráter hereditário. Ele é uma celebração da cultura e gastronomia latina, onde tudo é forte, vibrante e indiscutivelmente intenso.”

"Grande parte das paredes e estrutura eram pré-existentes. Devido a isso, optamos por seguir seu posicionamento, exceto no encontro das fachadas onde abrimos tudo para criar um ponto focal e valorizar este trecho tão importante visualmente.”

GEOMETRIA DE DESENCONTROS

  A espacialidade da Doce Trópico, como um todo, aposta em deslocamentos sutis, criando leve dinamismo arquitetônico sem sacrificar ordem ou naturalidade. A cobertura projeta-se para fora das paredes e se inclina de maneira calculada, permitindo a entrada de luz por uma faixa contínua de vidro — gesto que dá leveza e ritmo ao volume.

  Na fachada, paredes anguladas conduzem o olhar ao acesso e dialogam com painéis vazados e panos de vidro. Esse jogo assimétrico, propositalmente não paralelo ao piso, rompe a rigidez convencional e adiciona personalidade, enquanto as linhas retas se mantêm como contrapeso formal às cores vibrantes. O resultado é um equilíbrio entre intensidade e sobriedade, energia e ordem.

  Mesmo os guarda-corpos seguem essa lógica, inclinando-se para acompanhar a topografia da calçada e posteriormente se verticalizando como gesto escultórico. Além disso, uma das paredes internas avança para o exterior, acima da cobertura — e vista da esquina, emoldura a composição juntamente ao piso e à bancada externa, transformando o conjunto em um quadro urbano envolto de laranja.

ESTAMPAS DE LUZ

  A Doce Trópico trabalha contrastes não apenas de cores, mas também de texturas e luz. Na fachada, os ladrilhos hidráulicos se contrapõem aos cobogós: enquanto um apresenta forma curva, porém padrões ortogonais, o outro dissolve a rigidez em vazios orgânicos e fluidos. Além disso, o primeiro é sólido e o segundo é vazado, gerando literais estampas de luz no interior do projeto, que mudam de posição conforme o sol percorre o ambiente.

  Esse movimento de luz e sombra intensifica ainda mais a estamparia interna: no balcão, papéis de parede com ondas remetem às praias tropicais, enquanto a parede posterior recebe pinturas de linhas largas e orgânicas — quase tribais. O espaço então torna-se vivo, pulsante, marcado pela sobreposição de camadas visuais que reforçam o espírito tropical e artesanal da sorveteria.

  Como síntese, a Doce Tropico evidencia que nem toda construção precisa seguir linguagens consagradas como regras fixas. Aqui, a arquitetura se permite ser vibrante sem infantilizar, expressiva sem perder sobriedade e cheia de identidade sem temer o contraste. Ao transformar um pequeno espaço de 61m² em Santos em um manifesto sensorial, o projeto reafirma que arquitetura comercial pode — e deve — provocar, acolher e permanecer na memória.

“Luz e sombra também fazem parte da composição sensorial deste projeto, especialmente quando a presença de cobogós provoca contrastes que se movem conforme a luz do sol.”